CIRANDA, 2023

Inês Moura, Luísa Bebiano e Nuno Maia. Design de som — Henrique Vilão


CIRANDA é uma obra sinestésica, que apela a diversas sensações visuais, olfativas, auditivas e até tácteis. Na sua concepção a instalação faz referência ao “fazer” do pão, como um processo lento e cuidadoso, características tão próprias à preparação do alimento e tão essenciais às nossas relações afectivas entre pessoas para a construção de comunidade. Sendo o Mercado um espaço de encontro, de troca, de familiaridade, de consciência sobre a proveniência dos produtos, faz ainda mais sentido integrar esta criação artística nesse equipamento. Fazendo referência a uma relação bastante identitária com a cultura popular portuguesa, a obra faz uma alusão ao pão, que aqui se une ao vinho, elementos que sempre fizeram parte do mesmo universo de sabores.



Mercado Municipal de Coimbra
Horário: Segunda a Quarta-feira 09h00-00h00
Quinta-feira a Sábado 09h00-02h00
*Inauguração Quinta-feira, 18h30. Performance por Inês Moura
(repete a 16 de Dezembro, Sábado, 12h00).
Momento de degustação “Pão e Vinho sobre a Mesa” com Vinho Terras de Sicó.

Até 16 de Dezembro
Entrada Livre

Video Ciranda


A obra CIRANDA foi desenvolvida num contexto site-specific para uma exposição do Colectivo Pescada Nº5, com a duração de dois dias. Quatro visões e formas de sentir um espaço se complementaram para a criação da peça. Foi através da mistura de linguagens e sensibilidades que foi possível criar uma instalação que fizesse referência às antigas funções do local, onde outrora se fazia pão. A ideia ganhou forma através de um desenho espacial em que várias cirandas suspensas do tecto, deixavam suavemente cair pó de farinha, fazendo com que o desenho espacial se fosse alterando, tanto no chão, como pela própria nuvem de pó que durante alguns minutos desenhava no espaço novas colunas, em resposta à paisagem sonora criada especificamente para esta obra. A convite do projecto O Mundo do Vinho, esta instalação é agora apresentada através de uma releitura do seu contexto expositivo e conceptual, atento o espaço para o seu acolhimento, o Mercado Municipal D. Pedro V. Fazendo referência a uma relação bastante identitária com a nossa cultura popular portuguesa, a obra faz uma alusão ao pão, que aqui se une ao vinho, elementos que sempre fizeram parte do mesmo universo de sabores. A obra ganha agora novo significado, desvinculando-se do espaço para o qual foi criada inicialmente, para ocupar um dos vãos livres do Mercado no seu primeiro andar, adquirindo novas leituras, como por exemplo o facto de ali ainda nos ser possível tecer uma relação de proximidade com aquelas e aqueles que nos fornecem o alimento. CIRANDA é uma instalação que necessita ser activada através do toque, do manuseio, do abanar das suas cirandas, para que o pó da farinha cumpra a sua função de desenhar o espaço e o chão, se libertem os cheiros dos cereais e se vislumbre a passagem do tempo, nesse pó que lentamente cai como nuvem até ao chão. Assim sendo, terão lugar duas performances para activação da obra: na inauguração, a 12 de outubro, às 18h30 e no encerramento, a 16 de dezembro, às 12h00 (encerramento). De sublinhar ainda a projeção de uma curta obra videográfica (diariamente às 13h30 e às 20h30), a qual exibirá a performance mencionada, de forma a permitir aos visitantes, caso não tenham assistido, aceder à obra de uma forma mais plena. CIRANDA é uma obra que precisa ser activada para ser compreendida na sua potência máxima de metáfora de comunhão.¹

¹Origem etimológica: latim communio, -onis, comunidade, participação mútua, associação, carácter comum, conformidade. | “comunhão”, in Dicionário Priberam daLíngua Portuguesa [em linha], 2008-2023

Henrique Vilão É realizador, performer, vídeo artista e músico experimental. É licenciado e mestre em Cinema pela Universidade da Beira Interior (UBI), tendo recebido em 2013 a Bolsa de Estudo por Mérito Santander e em 2018 a Bolsa de Estudo por Mérito DGES. Estudou também com o cineasta e artista visual brasileiro Cao Guimarães no Procesual.uy (Montevideo) e no American Corner da Universidade de Aveiro. É atualmente docente do Curso de Cinema da Universidade da Beira Interior, nas áreas de Som e de Cinema Experimental. Os seus vídeos monocanal, vídeo instalações e curtas-metragens de ficção e documentário foram exibidos em diversas galerias nacionais e internacionais, exposições e festivais, com destaque para a galeria de arte contemporânea The ARX Gallery, em Londres e a galeria Redsheep, em Estocolmo. Dedica-se também à realização de videoclipes para bandas ou músicos internacionais. Em 2021, o seu trabalho para o tema Un Peu de Temps, do grupo suíço Grand Pianoramax, foi distinguido no prestigiado festival de cinema Solothurner Filmtage como um dos cinco videoclipes suíços do ano. Apresentou nas Jornadas Europeias do Património, em 2021, a instalação de luz e som Atlas 2.0 – Religação Entrópica, no edifício Atlas em Aveiro, criada para a Câmara Municipal de Aveiro. Trabalhou na criação de vídeo, música e sound design para o espetáculo Avalanche, do coreógrafo Bruno Alexandre. Colabora atualmente em projetos com a escritora e artista multidisciplinar Patrícia Portela e com a companhia de teatro ASTA – Teatro e outras artes.

Inês Moura Desenvolve o seu trabalho artístico, maioritariamente, nas áreas da fotografia, desenho e instalação. Coimbra, Lisboa e São Paulo são cidades às quais está profundamente ligada e que fazem parte da sua identidade fragmentada, tatuada de viajante. A imagem, a palavra, o espaço como matéria, aparecem muitas vezes nos seus trabalhos como forma de expressão de uma profunda ligação à Natureza, aos lugares que habita, a uma arqueologia da memória e do tempo. É licenciada em Pintura-Belas Artes (FBAUL -2009) e Mestre em Artes e Procedimentos Artísticos (IA-UNESP - 2013). Após quase 12 anos a residir em São Paulo, Brasil, onde desenvolveu igualmente a sua carreira na área da educação, regressa a Portugal em Novembro de 2020 e passa a estar quase exclusivamente dedicada à criação artística no seu atelier, tendo escolhido Coimbra, sua cidade berço, para se voltar a estabelecer em Portugal. Desde 2009, ano em que recebeu o prémio BES Revelação, e na sequência do qual teve o seu trabalho apresentado na Fundação de Serralves, que participa de exposições nacionais e internacionais. O seu trabalho está presente em coleções privadas (AA CONTEMPORARY ART COLLECTION, Colecção Aj, Coleção Nuno Maia) e públicas (CAPC - Círculo de Artes Plásticas de Coimbra). Teve a sua mais recente Exposição Solo - INTERSTÍCIO -, no Centro de Artes Visuais (Junho-Setembro 2023).

Luísa Bebiano É arquiteta, cenógrafa e diretora de arte. Licenciada em Arquitetura pela Universidade de Coimbra, tem atelier próprio desde 2010 em Coimbra, onde desenvolve projetos transdisciplinares, que a relacionam com a música, o teatro, o cinema e as artes plásticas. Iniciou a sua atividade enquanto arquiteta independente com trabalhos para África; a sua atividade enquanto Diretora de Arte na equipe do realizador António Ferreira e a sua atividade de cenografia com João Mendes Ribeiro, com quem trabalha pontualmente em coautoria. Recentemente tem vindo a estabelecer parcerias com artistas e curadores nas áreas das artes visuais. Foi distinguida com o Prémio Escolar Quartel Mestre General W. Elsden e em diversos concursos nacionais e europeus com obra realizada. Foi Assistente Convidada na Universidade de Coimbra do Master ALA - Architecture, Landscape, Archeology, tendo sido tutora da disciplina Design Studio (2019-2023). Faz frequentemente conferências e workshops, no âmbito do seu trabalho interdisciplinar.

Nuno Maia É arquiteto, concluiu o Mestrado Integrado em Arquitetura, pelo Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DARQ-FCTUC), em 2013. É doutorando no Curso de Doutoramento em Arquitetura do DARQ-FCTUC. No Mestrado em Arquitetura desenvolveu a Tese “Claustros Serlianos em Portugal: 1558-1635”. No seguimento desta dissertação, prossegue a investigação e colabora em várias publicações na área da Teoria e História da Arquitetura, assim como no âmbito do Património. No âmbito do Doutoramento, investiga a arquitetura dos séculos XVI e XVII, apoiado pela Fundação para Ciência e Tecnologia, sob o tema “João Turriano, arquiteto beneditino do período da Restauração”. Paralelamente, tem-se dedicado ao tratamento e estudo do espólio e da obra do arquiteto modernista António Sarrico (Ílhavo,1928). Desenvolve ainda no atelier da arquiteta Luísa Bebiano, trabalho de arquitetura, investigação e de assistência à direção de arte em cinema.




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